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Falta dos pais aumenta possibilidade de filhos usarem drogas

Pesquisa feita em capitais brasileiras, incluindo Teresina, aponta as características familiares que são determinantes para o consumo de drogas por jovens. Entre elas estão famílias com jovens que residem em lares uniparentais; que um dos pais fuma; que não fazem refeições com os pais; e que os pais não verificam o dever de casa dos filhos.

A pesquisa “Análise do Efeito da Família, da Escola e do Estado sobre o Consumo de Drogas dos Alunos nas Capitais Brasileiras”, feita por Kalinca Léia Becker, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), tem como base os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) e informações socioeconômicas das capitais brasileiras nos anos de 2012 e 2015.

Kalinca Léia Becker diz que a sua pesquisa buscou evidências da influência das características da família e de algumas medidas de gestão escolar e municipal sobre a probabilidade de os alunos nas escolas das capitais brasileiras declararem já ter experimentado drogas, a fim de contribuir para a maior efetividade das ações de prevenção e controle do uso de substâncias ilícitas entre os jovens.

Kalinca Léia Becker garante que os resultados são evidências de que a família tem um papel fundamental na prevenção do consumo de substâncias ilícitas e que o envolvimento e o monitoramento ineficientes dos pais nas atividades dos filhos podem ser considerados fatores de risco.

Crédito: Dilvulgação

Família

Um dos parâmetros estimados pela pesquisa aponta que as decisões de consumo ilícito dos jovens estão mais relacionadas com o exemplo e o envolvimento dos pais nas atividades e no cotidiano das crianças do que com o nível de educação formal dos pais e a renda da família.

“Corroborando essa ideia, o coeficiente estimado da variável lar uniparental, normalmente utilizada como medida de estabilidade familiar, indicou que os alunos que residem com apenas um dos pais têm 1,9% mais chance de experimentar drogas. Além disso, as variáveis que buscam observar o envolvimento dos pais com o cotidiano e com a educação dos filhos foram significativas. O coeficiente estimado da variável que identifica o aluno em que um dos pais fuma, utilizada como medida do exemplo de conduta dos pais para o consumo de substâncias prejudiciais à saúde, indicou que o fato de o pai fumar aumenta a chance de o aluno usar drogas em 3,7%. Já o fato de os pais não verificarem o dever de casa e não fazerem refeições com o filho aumentam, respectivamente, 3,3% e 3,1% as chances de consumo de drogas”, fala Becker.

Ambiente escolar

Citando outros autores, Kalinca Léia Becker afirma que a escola também pode atuar sobre o comportamento do jovem por meio de dois canais. O primeiro, denominado de “efeito capacitação”, ocorre quando a escola, por intermédio da educação, do monitoramento e dos bons exemplos de conduta, pode diminuir o engajamento dos jovens em atividades disruptivas.

Crédito: José Alves Filho

Já o segundo, denominado de “efeito concentração”, ocorre quando a concentração geográfica dos alunos em um ambiente escolar no qual prevalecem ações violentas aumenta a probabilidade de engajamento dos jovens em ações ilícitas, devido às interações sociais que estabelecem neste ambiente.

“Alguns fatores do ambiente escolar podem levar à ocorrência de um ato agressivo cometido por um aluno nas escolas observadas na Prova Brasil, nos anos de 2007 e 2009. Os resultados indicaram que a possibilidade de o diretor da escola registrar pelo menos um ato agressivo de um aluno é maior em ambientes escolares com traços da violência, em que ocorreram crimes contra o patrimônio, contra a pessoa, tráfico de drogas ou atuação de gangues”, declarou Kalinca Léia Becker.

Não basta só universalizar a educação

A pesquisa também traz aspectos sobre a escola, indicando que os alunos que frequentam escolas da rede pública apresentam 1,9% mais chances de declarar já ter experimentado drogas. Kalinca Léia Becker afirma que a variável gastos com educação foi significativa ao indicar que o aumento de 1% nos gastos com educação por habitante das capitais aumenta a possibilidade de o aluno declarar já ter experimentado drogas em 5,9%. De acordo com a pesquisadora, frequentar uma escola em que muitos colegas consomem drogas pode gerar um efeito multiplicador desse comportamento sobre os demais alunos.

Crédito: Kelson Fontinele

“Esse resultado é um contrassenso, uma vez que se espera que o acesso à escola e à educação de qualidade possa contribuir para reduzir o número de jovens propensos ao consumo de substâncias ilícitas. Uma possível explicação para este resultado pode estar relacionada ao fato de que a variável disponível refere-se ao total dos gastos com educação por habitante, não trazendo informações específicas da sua alocação. Desse modo, se uma grande parcela do total de gastos estiver alocada para garantir a universalização do ensino e a frequência escolar, proporcionando o acesso à escola de crianças de grupos sociais vulneráveis, é possível que, no curto prazo, a proporção de alunos na escola que já tiveram contato com as drogas aumente”, considerou.

Ela afirmou que para que se tenha os resultados sociais esperados, uma parcela dos gastos com educação deve estar direcionada para garantir uma educação de qualidade e um ambiente de convivência saudável para os alunos, uma vez que muitos estudos indicam que frequentar uma escola em que prevalecem ações ilícitas e de violência pode influenciar o comportamento do aluno, explicou. (E.R.)

Atividade física e assistência social podem reduzir uso de drogas

A variável que identifica as escolas que utilizam o pátio para realizar atividades físicas orientadas por um instrutor apresentou um sinal negativo e significativo nos modelos representados no levantamento, indicando que essa medida diminui a chance de o aluno declarar já ter consumido drogas em 0,5%.

Crédito: José Alves Filho

“Embora o valor do coeficiente estimado seja pequeno, a relação significativa pode ser uma evidência em favor da hipótese debatida em alguns estudos de que promover atividades físicas pode contribuir para a socialização dos alunos e a redução da agressividade, e, dessa forma, pode ser também uma medida de gestão escolar para reduzir o consumo de drogas”, afirma Becker.

Já o coeficiente estimado da variável gastos com assistência social por habitante das capitais apresentou um sinal negativo e significativo nos modelos, apontando que se houver aumento de 1% nesses gastos, diminui em 1,2 p.p. a possibilidade de o aluno ter consumido drogas. De acordo com ela, o governo pode utilizar-se de políticas públicas de assistência social que visem reduzir o número de famílias em situação de risco e vulnerabilidade.

“Os gastos com assistência social são destinados ao atendimento das necessidades básicas dos indivíduos e das famílias em situação carente e de vulnerabilidade social. Assim, o resultado dessa variável é um indicativo de que as políticas sociais nessa área também podem contribuir para reduzir o consumo de drogas dos jovens. Essa evidência soma-se aos resultados das variáveis relacionadas aos fatores de risco das famílias dos jovens, que indicaram que crianças em lares uniparentais, que um dos pais fuma e que os pais não verificam a lição de casa ou que não almoçam com os pais têm mais chance de declarar já ter experimentado drogas. Estes resultados são uma evidência de que a família tem um papel fundamental na prevenção do consumo de drogas dos jovens”, concluiu. (E.R.)

 

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