As invasões cometidas por hackers contra celulares de autoridades brasileiras, procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato e o ministro Sérgio Moro, tiveram início com o clã Bolsonaro, de acordo com documento do MPF (Ministério Público Federal), que denunciou nesta terça-feira (21-01-2020) o jornalista Glenn Greenwald e outras seis pessoas no âmbito da operação Spoofing.
Imagens obtidas durante a investigação mostram alguns nomes de titulares de contas do Telegram às quais Walter Delgatti Neto, o chefe da organização, teve acesso. Segundo o documento, a autoridade policial ressalta que encontrou no computador dele a cópia de tela do aplicativo de mensagens com um perfil de nome “Presidente”, onde a foto é o Brasão da República.
O documento aponta que os crimes continuaram a ocorrer de maneira sistemática até a data da deflagração da operação Spoofing, em 23 de julho de 2019. “Sendo que a técnica utilizada por Walter Delgatti remonta ao ano de 2018, revelando uma habitualidade delitiva, uma vida voltada à prática de crimes, seja invadindo dispositivos móveis, monitorando comunicações de terceiros ou, mesmo, envolvido em fraudes bancárias e furtos eletrônicos mediante fraude”, escreve o procurador Wellington Divino de Oliveira. “Foi uma vida voltada ao crime habitual”, resume.
Além de Greenwald e Walter Neto, também foram denunciados Thiago Eliezer Martins Santos, Gustavo Henrique Elias Santos, Danilo Marques, Suélen Oliveira e Luiz Henrique Molição, este último apontado como o interlocutor do grupo com o jornalista cofundador do site The Intercept Brasil.
Os hackers invadiram também contas do então juiz Sérgio Moro, ministro da Economia, Paulo Guedes, ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) e procuradores da força-tarefa da operação Lava-Jato.
Ariovaldo Moreira defende os denunciados Gustavo, Suelen e Walter. Em nota, a defesa afirma que a denúncia confirma que as acusações que recaem sobre os clientes são de cunho político. Leia a nota na íntegra:
“Com a apresentação da defesa prévia, a justiça enfrentará os pontos que já suscitamos em várias oportunidades quando da impetração de Habeas Corpus junto ao STJ e STF, quais seja: os vícios processuais, a ilegitimidade de parte dentre outras ilegalidades.
A denúncia apresentada pelo Ilustre Representante da Procuradoria Federal tão somente confirma que as acusações que recaem sobre meus clientes são de cunho político, desprovidas de qualquer embasamento técnico, exatamente por isso a acusação está fadada ao fracasso, sobretudo por desrespeitar diversas garantias constitucionais e legais, afrontando, inclusive, grande parte da Doutrina Criminalista deste país.
As irregularidades aqui apontadas não são fatos isolados, demonstram o risco que qualquer cidadão pode vir a ter, em especial quando envolve o alto escalão do Poder. Regras se cumprem. A Constituição se cumpre. Exigiremos isso não importam as circunstâncias”.
Leia na íntegra a nota emitida pelo site The Intercept:
1 – Os diálogos utilizados pelo MPF na denúncia são rigorosamente os mesmos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, e a cerca dos quais a PF não imputou qualquer conduta criminosa a Glenn.
2 – A PF concluiu: “Não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados”.
3 – A PF destaca, inclusive, a “postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões” por parte do jornalista cofundador do Intercept.
4 – Gleen Greenwald não foi sequer investigado pela PF, pois não existiam contra ele os mínimos indícios de cometimento de crimes.
5 – Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal.
6 – Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar absurdos de poder como esse.
Foto e fonte: r7
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