Ao menos 79 pessoas receberam os milhões de reais furtados de uma das instituições financeiras que foram alvo do que é considerado pela Polícia Civil de São Paulo o maior ataque hacker da história no país.
A C&M Software, prestadora de serviços de tecnologia para instituições provedoras de contas transacionais, sofreu o ataque contra sua infraestrutura tecnológica na terça-feira (1º/7). Ao menos R$ 541 milhões foram desviados do banco BMP.
Dois dias após o ataque, João Nazareno Roque, de 48 anos, foi preso pela Polícia Civil paulista, suspeito de ter contribuído para o ataque, ao permitir que hackers usassem suas senhas de acesso ao sistema. Para isso, como mostram as investigações, ele teria recebido R$ 15 mil.
Uma relação de empresas e pessoas físicas consta em uma listagem, enviada pelo BMP à polícia de São Paulo. A reportagem teve acesso ao documento, no qual são listadas 79 pessoas que teriam sido beneficiadas pelo ataque. Quatro delas receberam, sozinhas, mais de R$ 100 milhões.
- Carlos Luiz da Silva Júnior, para o qual foram feitas sete transferências, totalizando R$ 44 milhões
- André Luís Fonseca Costa, que recebeu R$ 35,3 milhões, em 11 transferências
- Vanessa Ribeiro Ritacco, para a qual chegaram R$ 20 milhões, fragmentados em quatro depósitos.
- Franciely Queiroz Cardoso. Ela recebeu R$ 15 milhões, por meio de duas transações.
- A defesa deles não havia sido localizada pelo Metrópoles até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Empresas investigadas
Além das pessoas físicas, o BMP conseguiu identificar as transações feitas com, até o momento, 29 empresas (veja galeria acima) — incluindo instituições bancárias — os horários e, também, valores pulverizados para cada uma delas. O documento, obtido pelo Metrópoles, mostra que, entre às 2h03 e às 7h04 de 30 de junho, foram feitos 166 depósitos via Pix, totalizaram R$ 541.019.034,96.
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Somente uma delas recebeu, em 69 movimentações, R$ 270,9 milhões. A empresa, ligada ao ramo de “soluções de pagamentos”, é alvo de diversas denúncias de fraude, feitas por clientes. A polícia investiga se a empresa seria usada como fachada para ações ilegais.
No outro extremo da listagem de empresas, para as quais as centenas de milhões foram pulverizados, outra instituição de pagamentos recebeu R$ 200 mil, por meio de duas movimentações bancárias.
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Como foi o ataque
O golpe financeiro que atingiu a C&M Software se deu por meio de uma modalidade conhecida como “Supply Chain”, na qual os hackers atacam uma empresa com o objetivo de acessar valores dos clientes.
Um ataque desse tipo é planejado por um longo período — de seis meses ou mais. Avaliações preliminares apontam que os criminosos já estariam dentro do sistema da C&M há algum tempo.
- Pelo menos seis instituições financeiras foram afetadas pela ação criminosa, com desvios de recursos de contas de empresas e interrupção temporária de operações via Pix.
O número divulgado pela Polícia Civil, de R$ 541 milhões, é referente ao prejuízo de uma das instituições financeiras atingidas (a BMP). Fontes ligadas à Polícia Federal – que também abriu investigação para apurar o caso – dão conta de que o montante desviado pode ser bem maior.
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