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Fonte: https://www.metropoles.com/

“Absolvido” pelo PCC, Gritzbach teria sido morto por policiais

 Investigações, depoimentos e até a delação feita pelo corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, assassinado com dez tiros de fuzil em 8 de novembro, reforçam a suspeita cada vez maior de que policiais civis estejam envolvidos na execução, ocorrida no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Em uma das frentes de investigação, um relatório da Polícia Federal (PF) já menciona o “provável envolvimento” de agentes da Polícia Civil paulista no crime — cometido oito dias antes de Gritzbach ter denunciado à Corregedoria da Polícia Civil a relação de policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Até o momento, sete policiais civis foram presos pelo suposto envolvimento na morte do delator. Em relatório obtido pelo Metrópoles, investigadores federais mencionam a proximidade da data da delação com a do assassinato, além de destacarem “os constantes vazamentos de informações à imprensa” dos nomes de supostos envolvidos no homicídio — praticado à luz do dia, no aeroporto mais movimentado do país. Os vazamentos, atribuídos a policiais civis, conforme o documento da PF, buscavam “apontar o envolvimento de membros do PCC [no assassinato] e desviar do foco investigativo a possibilidade de envolvimento de policiais do próprio DHPP ou do Deic [no crime]”.

O próprio secretário da Segurança Pública de São Paulo, o capitão da reserva Guilherme Derrite, afirmou acreditar que o PCC cometeu o crime, mas disse que não descartava a possibilidade do envolvimento de policiais no assassinato de Gritzbach.

A consideração foi feita em 20 de novembro, quando o titular da pasta, acompanhado das cúpulas das polícias Civil e Militar, divulgou a identidade e uma foto de Kauê do Amaral Coelho — apontado como a pessoa que teria avisado os assassinos sobre a chegada de Gritzbach na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos.

Derrite ainda anunciou o pagamento de R$ 50 mil para quem desse informações que ajudassem na prisão de Kauê, reativando com isso o Programa Estadual de Recompensas.

O caso que precede o de Gritzbach no programa ocorreu em 2018, após o assassinato do policial militar Nilson Mikio Furuta Junior, de 30 anos, durante um ataque a bancos em Atibaia, no interior paulista.

Até o momento, o suspeito pelo homicídio do PM não foi preso e nem sua foto ou identidade divulgados. A recompensa deste caso também é de R$ 50 mil.

Kauê seguia foragido até a publicação desta reportagem.

“Inocentado” pelo PCC

Gritzbach foi preso pelo DHPP, em fevereiro de 2022, pelo suposto envolvimento no assassinato de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, ambos do PCC, em 26 de dezembro de 2021.

Ele foi conduzido em uma viatura pelo delegado Fábio Baena e pelo investigador-chefe Eduardo Monteiro, que ligaram para o policial civil Marcelo Marques de Souza, o Bombom, com o qual comemoraram a “cana de bilhões“. Já no DHPP, em uma sala, Eduardo Monteiro telefonou para os “14 do PCC” — uma menção à Sintonia dos 14, composta por membros do PCC responsáveis pela coordenação e o cumprimento das regras da facção em 14 regiões específicas da capital, Grande São Paulo e interior. O interlocutor do policial, que seria da cúpula da facção, teria afirmado: “Não façam injustiça com o menino [Gritzbach], o menino não tem nada a ver [com o duplo homicídio]”.

Antes de ser preso, Gritzbach foi sequestrado por membros do PCC, auxiliados pelo policial civil Marcelo Roberto Ruggieri, o Xará, e levado para um “tribunal do crime”, no qual foi “absolvido” pelo PCC, de acordo com denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Se a teoria de que Gritzbach foi inocentado pelo PCC estiver certa, o que aponta uma das linhas de investigação, a facção criminosa provavelmente não está por trás da execução do delator. A versão de que o crime teria sido executado pelo PCC, portanto, só interessaria aos verdadeiros assassinos.

Sentenças do crime

De acordo com o MPSP, a própria facção supostamente já sabia quem eram os prováveis envolvidos no assassinato de Cara Preta e Sem Sangue, da mesma forma que os policiais do DHPP e do Deic. Manter Gritzbach como suspeito seria apenas uma estratégia da polícia para praticar extorsões.

Em sua delação, Gritzbach afirmou que o delegado Fabio Baena e Eduardo Monteiro receberam R$ 5 milhões, cada um, para não prenderem Rafael Maeda Pires, o Japa, e Danilo Lima de Oliveira, o Tripa. O pagamento foi feito em dinheiro vivo, ainda de acordo com o depoimento, em uma padaria.

Supostamente envolvido no homicídio de Cara Preta e Sem Sangue — mas sem constar nos registros oficiais da polícia —, Cláudio Marcos de Almeida, o Django, foi encontrado enforcado sob o viaduto Vila Matilde, zona leste paulistana, em janeiro de 2022. Cerca de quatro meses depois, Japa foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, em um estacionamento no Tatuapé, também na zona leste. Ambos teriam sido executados pelo PCC por causa do duplo homicídio.

Segundo o MPSP, Gritzbach teria mandado matar dois integrantes do PCC

O suposto assassino de Cara Preta e Sem Sangue, Noé Alves Shaun, foi executado e esquartejado. Sua cabeça foi deixada à vista, em janeiro de 2022, na Praça 20 de Janeiro, no Tatuapé, perto de onde Cara Preta e Sem Sangue haviam sido assassinados. Além disso, dentro da boca dele havia um bilhete, no qual constava o motivo do assassinato seguido de decapitação:

“Esse pilantra foi cobrado em cima da covardia que ele fez em cima dos nossos irmãos Anselmo [Cara Preta] e Sem Sangue.”

Gritzbach afirmou que o chefe de investigações Eduardo Monteiro tinha tamanho contato com a cúpula do PCC que teria lhe mostrado o vídeo com as imagens do esquartejamento de Noé.

Tentativa de extorsão

Enquanto o PCC esclarecia e punia o assassinato de Cara Preta e Sem Sangue, Fabio Baena e Eduardo Monteiro teriam sugerido o pagamento de R$ 40 milhões para tirar o nome de Gritzbach da investigação sobre o duplo homicídio. O valor, contudo, não foi pago.

O delator afirmou que, já cumprindo a prisão temporária e, por não aguentar ficar na cadeia, pediu para que seu advogado, na ocasião, oferecesse “todo [o dinheiro] que tinha em suas contas bancárias” — que totalizava cerca de R$ 3 milhões — para que os policiais do DHPP não solicitassem a renovação da detenção temporária.

Em uma nova reunião entre a defesa do delator com o delegado e o chefe de investigações, ambos os policiais teriam falado que, naquele momento, “nem se fossem pagos R$ 60 milhões” livrariam Gritzbach da prisão.

Segundo alegado pelos policiais ao advogado, eles já haviam “acertado” com outro criminoso para que colocassem o corretor de imóveis “como alvo principal” das investigações.

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