A estudante de direito Ana Paula Veloso Fernandes, de 36 anos, ré na Justiça por quatro homicídios e apontada pela polícia como uma “verdadeira serial killer”, teria usado comidas e bebidas — como milk-shake, bolo, quitute de boteco e feijoada — para envenenar suas vítimas, de acordo com as investigações da Polícia Civil de São Paulo.
Denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtida pelo Metrópoles, afirma que a universitária preparava os alimentos misturados a “chumbinho”, veneno ilegal usado para matar ratos, e os oferecia às vítimas com frieza e cálculo, em situações cotidianas. Tanto a equipe do 1º DP de Guarulhos, que investiga as mortes, como o Judiciário, afirmam que Ana é uma assassina em série.
Segundo as investigações, as mortes tinham motivação financeira ou pessoal. Ana Paula é acusada de envenenar quatro pessoas: Marcelo Hari Fonseca, Maria Aparecida Rodrigues (ambos em Guarulhos), Hayder Mhazres (na capital paulista) e Neil Corrêa da Silva (no Rio de Janeiro).
O primeiro crime ocorreu em janeiro de 2025, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ana Paula morava nos fundos da casa de Marcelo Hari Fonseca, de 52 anos, e teria preparado um bolinho frito, semelhante aos feitos em boteco, com chumbinho para oferecer a ele. “Eu só dei o bolinho. Ele comeu e logo depois começou a passar mal”, relatou Ana em interrogatório.
Segundo o inquérito, ela pretendia ficar com o imóvel da vítima após a morte. Peritos localizaram resquícios do veneno na pia e no lixo da cozinha. Marcelo morreu horas depois, e o caso foi inicialmente tratado como mal súbito.
Amiga morta após lanche e café
Em abril, Ana Paula recebeu em casa Maria Aparecida Rodrigues, amiga com quem mantinha contato frequente e que havia conhecido em um app de relacionamentos. Usando um nome falso (Carla), ela ofereceu café e bolo à mulher — não se sabe exatamente qual dos alimentos estava envenenado. Maria conseguiu voltar para casa, mas passou mal e morreu no mesmo dia.
O laudo toxicológico confirmou a presença de substâncias compatíveis com veneno de rato no corpo da vítima. A investigação aponta que Ana tentou incriminar um ex-namorado ao dizer que ele teria passado pela casa da mulher pouco antes da morte.
Feijoada de crime encomendado
Também em abril morreu outra vítima de Ana Paula, desta vez em Duque de Caxias (RJ). A vítima foi Neil Corrêa da Silva, de 65 anos — pai de Michele Paiva da Silva, ex-colega de faculdade de Ana e apontada como contratante do crime.
Michele teria pago R$ 4 mil a Ana Paula para envenenar o próprio pai durante um almoço. Ana preparou uma feijoada batida, misturada com veneno, e observou Neil definhar logo após comer.
“Dei duas colheres da feijoada batida. Ele comeu, deitou e começou a dizer que estava mal”, relatou Ana Paula em depoimento à polícia.
Em uma mensagem interceptada, ela ainda disse que “não conseguiu fazer o TCC como planejado”, expressão que os investigadores entenderam como referência ao assassinato.
Antes de executar o crime, ela testou o veneno em cachorros, para medir o tempo de ação da substância, como também afirmou em seu depoimento.
Milk-shake envenenado
A última vítima de Ana Paula de que se tem notícia é o tunisiano Hayder Mhazres, de 21 anos. Ele também conheceu a acusada em um aplicativo de relacionamentos. O casal se encontrou na capital paulista em maio e saiu algumas vezes.
Segundo as investigações, ela teria planejado o assassinato do jovem após ele querer se separar diante de uma falsa narrativa de que ela estaria grávida. Em um dos encontros, então, ela teria oferecido a ele um milk-shake, preparado ou manipulado por ela. Poucas horas depois, Hayder morreu com sintomas de intoxicação aguda.
O processo mostra que, após o crime, Ana Paula tentou se passar por companheira da vítima, chegando a pleitear herança e acesso a bens do estrangeiro.
“TCC” virou código para morte
Segundo a polícia, entre as conversas interceptadas, Ana Paula e a irmã gêmea, Roberta, se referiam aos homicídios como TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). O termo, que parecia uma brincadeira entre universitárias, era na verdade um código para planejar e executar assassinatos.
De acordo com mensagens analisadas no processo, Roberta era uma espécie de consultora da irmã: ela orientava Ana Paula a usar dinheiro vivo para comprar material para os assassinatos (e, assim, não deixar rastros), sugeria valores a partir de R$ 4 mil por crime e até ajudava a eliminar vestígios, como ao queimar o sofá no qual uma das vítimas — Marcelo Hari — foi encontrada.
Investigação e prisões
As investigações da Polícia Civil de Guarulhos e do MPSP ligaram os quatro homicídios pelo mesmo padrão: envenenamento em refeições e bebidas, sempre aplicadas de forma dissimulada.
Na decisão em que aceitou a denúncia contra a estudante de direito, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo classificou Ana Paula como “serial killer”, destacando a premeditação e a frieza nas execuções.
As irmãs Ana Paula e Roberta estão presas preventivamente e respondem por quatro homicídios qualificados, associação criminosa e ocultação de provas.
O que diz a defesa das gêmeas
O advogado Almir da Silva Sobral, que defende as irmãs, diz, em nota, que qualquer afirmação prematura sobre a participação das duas nos crimes é uma violação direta do princípio da presunção de não culpabilidade. “Nesta fase, em que as provas ainda estão sendo formadas e examinadas, não é possível afirmar ou negar categoricamente qualquer tese defensiva.”
“Acreditamos que, ao final da apuração, a verdade real virá à tona”, acrescenta a nota.
Fonte: https://www.metropoles.com
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