Investigados em operação da Polícia Federal (PF) contra o tráfico de drogas, os policiais rodoviários federais (PRFs) Diego D. D. (vulgo Robocop) e Raphael.A.A.N, cobravam até R$ 2 mil por quilo de cocaína para fazer o transporte da droga para o Comando Vermelho (CV). A informação consta em diálogos que foram interceptados pela PF e cujo teor foi obtido pela coluna.
Há casos em que os agentes levaram mais de meia tonelada de entorpecentes, o que poderia render até R$ 1 milhão.
Diego, Raphael e outros três policiais militares foram alvos da Operação Puritas, deflagrada em 7/11/2024 pela Polícia Federal. De acordo com as investigações, os agentes eram responsáveis pelo transporte de toneladas de drogas destinadas principalmente ao CV no estado do Ceará. O grupo criminoso poderá responder por tráfico interestadual de drogas, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Os policiais obedeciam aos comandos do traficante José Heliomar de Souza, conhecido como Léo e apontado pela PF como mentor intelectual, coordenador e líder da organização criminosa sediada em Porto Velho, Rondônia.
Além do transporte de centenas de quilos de cocaína, os agentes de segurança pública tinham outras funções na organização criminosa: contrainteligência e direcionar flagrantes contra quadrilhas rivais. Eles usavam informações “sensíveis” e “sigilosas” para beneficiar o grupo criminoso, como saber quando e onde ocorreriam “blitzes” e operações, bem como apontar rotas alternativas. Em contrapartida, Heliomar fornecia informações aos agentes da PRF sobre a atividade do tráfico de drogas na região, de modo que eles fizessem flagrantes contra traficantes que concorriam com o grupo criminoso. Com isso, os agentes de segurança pública passavam a imagem para as instituições de serem profissionais exitosos. Mas, o que PF descobriu é, na verdade, um antro de corrupção e lavagem de dinheiro.
Parte das drogas apreendidas pelos policiais também era repassada para Heliomar, que chegava a ficar, em alguns casos, com 30% da mercadoria. Esse modus operandi, segundo a PF, fez a organização criminosa “crescer muito rápido”.
As investigações apontam que Heliomar lavava o dinheiro do tráfico mantendo um mercado, uma locadora de carros e uma transportadora em Porto Velho.
Transporte de drogas vai “abrir portas” para PRFs, disse líder do tráfico
As conversas dos PRFs com Heliomar tiveram início em dezembro de 2021, quando o traficante fez a primeira negociação com os agentes de segurança pública para transportar as drogas.
A quebra do sigiloso telefônico e telemático dos investigados apontou conversas entre os agentes da PRF negociando o valor do “serviço” e elaborando estratégias para não serem pegos transportando a droga nas rodovias do país.
Diego e Raphael até alugavam carros para transportar os entorpecentes. Ambos realizavam consultas em sistemas informatizados da PRF para que outros membros da quadrilha evitassem fiscalizações nas rodovias. Confira os diálogos: Em uma das conversas por WhatsApp, ocorrida entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2021, os dois PRFs consideram “baixo” o valor de R$ 35 mil para transportar 70 quilos de cocaína. Para eles, o mínimo teria que ser R$ 1,5 mil por quilo da droga, ou seja, R$ 105 mil.Por ser véspera de Natal, eles falam sobre adiar a entrega para janeiro e afirmam que “toda semana aparece oportunidade”. No dia 18 de dezembro, Raphael diz para Diego que Heliomar “está apertando” para que eles façam o frete mesmo assim, porque isso “abriria portas” aos dois.
PRF foi preso por transportar meia tonelada de cocaína
Raphael chegou a ser preso em flagrante em julho de 2023 transportando 542 kg de cocaína em Canarana (MT), a 823 quilômetros de Cuiabá. Na ocasião, ele capotou a caminhonete que pilotava com as drogas, tentou empreender fuga em um táxi, mas foi rendido.
O PRF Raphael foi preso por transportar meia tonelada de cocaína em Mato Grosso
Naquele tempo, Raphael já era investigado por tráfico de drogas e trabalhava lotado na unidade da PRF em Natal, no Rio Grande do Norte. No curso das investigações, a PF identificou que ele recebeu um Jeep Compass como forma de pagamento pelo transporte de drogas.
Em relação a Diego , ele está atualmente lotado na PRF da Bahia, mas já trabalhou na cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
Diego foi preso no último dia 7 no âmbito da Operação Puritas. A Polícia Federal apreendeu na casa dele, em Feira de Santana, um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil de dinheiro em espécie. Veja vídeo a seguir:
Prática de locação de carros para não levantar suspeitas
A Polícia Federal identificou que os agentes da PRF alugavam carros para despistar a polícia. Casos eles utilizassem o mesmo veículo para transportar drogas várias vezes, o sistema de inteligência da instituição acusaria a frequência do automóvel.
A partir da quebra de sigilo bancário, de notas fiscais e de metadados de GPS dos aparelhos celulares dos suspeitos, a PF conseguiu traçar o caminho da droga.
Raphael N: alugou sete veículos em menos de dois anos;
Diego D: registros indicam que ele alugou veículos em 16 situações em dois anos, tendo emprestado o carro locado para Heliomar.
“É importante ressaltar que PRFs têm conhecimento sobre o uso de carros alugados por traficantes para o transporte de drogas, o que levanta a possibilidade de Diego D., utilizar essa estratégia para evitar suspeitas e fiscalizações durante o transporte ilícito. Ou seja, por ele ser PRF, provavelmente os carros alugados em seu nome passariam fora do radar da fiscalização”, diz a PF no inquérito.
Policiais militares também participavam de esquema de tráfico de drogas
Os agentes da PRF Diego e Raphael Angelo não agiam sozinhos. A PF identificou que, ao menos, um policial militar da Bahia e outros dois de Rondônia também integravam a organização criminosa liderada por Heliomar.
Em 2023, dois PMs de Rondônia foram presos em flagrante no posto da PRF em Vilhena (RO) transportando 500 kg de cocaína. Foram eles: o sargento Gedeon R. A, e o cabo Roberte P. A.S.
A PF identificou que, enquanto o cabo Aguiar dirigia a caminhonete transportando a droga, o sargento Gedeon era responsável por fazer o papel de batedor, ou seja, ele verificava a presença de policiais que pudessem parar o veículo carregado de drogas.
Na ocasião, a PF apreendeu uma pistola com o cabo Aguiar que estava registrada em nome de Heliomar. A partir dessas provas e da confissão dos dois policiais, a PF identificou a ligação dos agentes da segurança pública com o líder da organização criminosa, chegando, mais tarde, também aos policiais rodoviários federais.
Outra ocorrência, dessa vez em setembro de 2022, a PRF prendeu em flagrante no município de Icó (CE) o policial militar da Bahia Francisco A. M. O agente transportava uma mala com R$ 689 mil de dinheiro em espécie e várias munições de fuzil.
Em depoimento à época, o policial militar disse que pegou a mala com Heliomar e que fez o transporte a pedido de um amigo, o PRF Diego D. O PM alegou ainda que não sabia o que tinha dentro e que buscou a mala em Fortaleza.
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