A bombeira civil Loren Tiago ignorou as dores no corpo para seguir no trabalho de resgate de vítimas no sábado. O pedreiro Matheus Dias perdeu as contas de quantas viagens de moto fez desde a última quarta-feira para entregar cestas básicas em diversos pontos da cidade. O cobrador de ônibus Valdir da Conceição, por sua vez, equilibrava um saco com mantimentos no ombro para ajudar na alimentação da filha, que perdeu todos os móveis com as chuvas.
O temporal da terça-feira (15) deixou, até a mais recente atualização na noite do sábado, 152 mortos, cerca de 200 pessoas desaparecidas e mais de 900 desabrigadas. Criou também uma grande rede de solidariedade para apoiar as vítimas e tentar trazer algum conforto à população em meio ao caos.
Com árvores caídas e montes de terra e entulho obstruindo vias, o acesso a alguns pontos da cidade se tornou impossível em carros ou outros veículos maiores. Para piorar a situação, enquanto máquinas da prefeitura trabalham para desobstruir as ruas, o trânsito permanece caótico. Só quem consegue circular com alguma facilidade são os motoqueiros. E são eles que, desde quarta-feira, têm ajudado a diminuir as dificuldades dos moradores que perderam quase tudo com as chuvas do dia anterior. "Só hoje (no sábado) já fiz umas 20 viagens", disse, por volta das 13h, o pedreiro Matheus Xavier Dias, de 25 anos. Desde o meio de semana, ele está cruzando a cidade de manhã à noite transportando donativos com a sua moto. "É um mutirão de motoboys para levar coisas onde carro não passa, que é Caxambu, Sargento, Vila Filipe", contou Dias. "Nós estamos nesse intuito de ajudar os moradores que perderam suas casas." A prefeitura da cidade convocou os motoqueiros para ajudar no transporte de cestas básicas. Quem aceita ganha um selo na moto e pode abastecer gratuitamente a qualquer hora do dia. "Vou ajudar até acabar", garantiu o pedreiro para a reportagem. Loren, por sua vez, faz curso técnico em enfermagem e é bombeira civil há três anos. Moradora de Petrópolis, ela disse que, desde o desastre da última terça-feira, só conseguiu se acalmar quando vestiu a farda de bombeiro e foi para a linha de frente ajudar no que fosse possível. "Na terça, quando eu estava recebendo os vídeos e as fotos, a minha reação foi só chorar; e a gente não imagina a dor das mães e dos filhos. É muito triste ver uma situação dessas, dói dentro da nossa alma. Eu não tive paz enquanto eu não consegui sair de casa para vir aqui ajudar", afirmou ela, que momentos depois iniciou mais um dia de trabalho na Rua Teresa, a principal via de comércio da cidade, fortemente atingida pelas chuvas. "Hoje (sábado) eu acordei toda dolorida, dos pés à cabeça. Tomei duas dipironas e vim, porque, infelizmente, falta mão de obra. A gente não pode se abater."


