Início » Brasil » Acusado de atirar em Gerson Brenner chora e diz que confessou por ter sido torturado

Acusado de atirar em Gerson Brenner chora e diz que confessou por ter sido torturado

De calça bege e camiseta branca, seu uniforme, Luzimar Sabino dos Santos entra algemado em uma das salas administrativas da Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos.

Após vinte anos de silêncio, é a primeira vez que Luzimar decide falar sobre o que aconteceu no dia 17 de agosto de 1998. O dia em que sua vida e a do ator Gerson Brenner mudaram para sempre.

O crime que deixou Brenner entre a vida e a morte está perto de completar 20 anos. O que aconteceu na estrada SP-060, que liga a Rodovia Ayrton Senna à via Dutra, é algo que os familiares do artista procuram entender até hoje.

Após uma emboscada criminosa, Brenner foi baleado na cabeça enquanto trocava o pneu do carro. Dinheiro e objetos de valores que estavam no veículo do ator não foram levados pelos bandidos.

R7 teve acesso exclusivo ao acusado na penitenciária, onde Luzimar se encontra novamente preso aguardando julgamento por cometer um outro crime. Desta vez, homicídio e acusação de estupro, supostamente praticados em março deste ano.

Luzimar, um dos três homens acusados pelo crime de 1998, havia deixado a cadeia em agosto de 2017 após cumprir pena de quase 20 anos pela tentativa de latrocínio (assalto seguido de morte) contra Brenner.

Alegação de inocência

Antes mesmo que a equipe do R7 pudesse se apresentar para o início da entrevista, Luzimar desata um choro incontrolável, e com ele, juras de inocência. “Pegaram o Gerson Brenner, assaltaram ele. A imprensa está fazendo de mim um monstro. Dói muito porque não fui eu. Não fui eu que cometi isso aí. Eu não atirei nele”, disse, aos prantos.

Além de negar o disparo, Luzimar ainda afirmou que sequer participou do crime. Ele contou que naquela madrugada de 17 de agosto estava em casa, na companhia da mulher e das duas filhas. O delegado Marcos de Almeida Tourinho, de Guararema, que apurou o caso na época, falou ao R7: “Em 28 anos de polícia, eu nunca vi ninguém confessar. Todos negam qualquer tipo de crime.”

Vitor Tancredo Neves e Dimas Almeida Batista foram os outros dois condenados pelo crime. Sobre os supostos comparsas, Luzimar evita falar qualquer coisa. Diz que só pode responder por ele mesmo.

Dimas, Luzimar e Vitor no momento da prisão, em agosto de 1998

Dimas, Luzimar e Vitor no momento da prisão, em agosto de 1998

Jorge Araújo/Folhapress

Na época, a prisão de Luzimar aconteceu de forma supreendente: seu pai, Gervásio Sabino dos Santos, entregou o filho à delegacia, juntamente com uma arma calibre 38. “Lá ele disse para o delegado: ‘Aqui está o meu filho. Se ele tiver feito alguma coisa quero que ele pague. Se não, quero justiça’. Meu pai era um homem bom, trabalhador, ele confiava no filho que tinha.”

Acusação de tortura

O nome do delegado Tourinho, dito e repetido diversas vezes ao longo da conversa, irrita Luzimar. Ele afirma que foi obrigado a confessar o crime por não aguentar mais apanhar dos policiais.

“Foi só meu pai virar as costas e sair para ver a maldade no olho do doutor Tourinho. Ele deu um tapa na minha cara, me chutou como se eu fosse uma bola, tomei choque em todas as partes do corpo. Colocaram uma bola de meia na minha boca e o doutor Tourinho sabe, ele sabe o que ele fez comigo”, diz Luzimar. “Eles [os policiais] queriam que eu confessasse. Eu dizia que não ia falar uma coisa que eu não fiz. Eles puseram uma luva, pegaram na minha mão, colocaram uma caneta e me fizeram assinar. Teve uma hora em que eu falei ‘fui eu’, porque eu apanhei muito.”

Luzimar permaneceu algemado durante toda a entrevista

Luzimar permaneceu algemado durante toda a entrevista

Márcio Neves/R7

Luzimar faz uma pausa. Pede para que nada seja cortado da matéria. O pedido do preso foi feito pelo menos quatro vezes durante toda entrevista. Ele ainda quis saber quem seria a pessoa que iria editar o texto e o vídeo.

A conversa com o preso durou cerca de 45 minutos.

O delegado Tourinho contestou a acusação de tortura. “Essa mentira é a única defesa de quem não tem argumento para entrar no mérito. Se não tiver nenhuma prova e apenas uma confissão por si só, fica muito frágil”, diz. “Se eles foram condenados, o Ministério Público ofereceu denúncia, é porque o conjunto provatório estava bom. Então, a confissão para nós é o de menos.”

Quem atirou no ator Gerson Brenner?

De volta ao dia 17 de agosto de 1998, Luzimar nega veementemente qualquer participação no caso. E ainda afirma que, ao passar por diversas penitenciárias ao longo dos 20 anos de pena, chegou a conhecer participantes do crime contra o ator.

“Tem um cara envolvido. Não vou falar o nome aqui porque vou estar ‘caguetando’. Imagina, eu nunca ‘caguetei’ dentro do pavilhão, nunca ‘caguetei’ na rua, vou ‘caguetar’ na televisão, todo mundo assistindo. E a minha dignidade, e a minha moral?”, diz, sem dar mais detalhes sobre os supostos criminosos que teria conhecido.

Gerson Brenner no lançamento da novela "Corpo Dourado", em 1998

Gerson Brenner no lançamento da novela “Corpo Dourado”, em 1998

Rosane Bekierman/Folhapress

Os detalhes da vida de Brenner na ponta da língua

Na época do crime, Luzimar vivia em Guararema, a 63 km de São Paulo. A cidade tem 28 mil habitantes. Questionado se era comum existir emboscadas na cidade como a que vitimou Gerson Brenner na estrada, Luzimar foi direito na resposta. “Não posso falar, não sei. Não é porque eu fui morador de lá que eu era obrigado a saber tudo o que acontecia.”

Num rompante, Luzimar troca de assunto.

“Agora se põe no meu lugar: eu, ali na cadeia, e passa [na televisão] o Gerson Brenner, ali, de chapelão, bonito, forte, com toda saúde e depois vejo ele ali, ‘bobão’, ‘grogue'”, diz. “Sei que não fui eu, e oro por ele todos os dias.”

Luzimar demonstra acompanhar a trajetória de Brenner. Comenta sobre a filha, Vitória, de 19 anos — “está grandona, está moça” — e sobre a mulher à época do crime, Denize Tacto: “Largou ele”.

Ele relembra um entre dezenas de tratamentos que Brenner experimentou para tentar recuperar os movimentos do corpo, a equoterapia, técnica de equitação que tem como objetivo a reabilitação do paciente. “Vi ele passando em cima de um cavalo. Todo tipo de reportagem do Gerson Brenner eu vi. Quando passava novela, doía no meu coração, e ainda dói.”

Ao longo desses quase 20 anos, Gerson Brenner passou pelos mais diversos e sofisticados tratamentos de reabilitação.

Apesar dos traumas sofridos, o ator se recorda de tudo, principalmente da carreira de modelo e de ator, graças à parte cognitiva que ficou preservada.

Ator é levado ao helicóptero, ao ser transferido de Jacareí para a capital São Paulo

Ator é levado ao helicóptero, ao ser transferido de Jacareí para a capital São Paulo

Paulo Giandalia/Folhapress

Luzimar relatou também onde estava quando soube do acidente: em um bar com um amigo, tomando uma cerveja e comendo um tira-gosto.

“Passou na televisão: ‘O ator Gerson Brenner é baleado e está entre a vida e a morte’. Eu falei ‘meu Deus do céu, olha o que fizeram com o Gerson Brenner’. Eu chorei, uma lágrima caiu. Se o Gerson Brenner fosse meu filho ou meu irmão eu ia falar o mesmo: ‘Quero que esse cara morra na cadeia’”, revela.

Entre uma lembrança e outra, Luzimar procura reforçar inocência e chega a negar repetidamente: “não fui eu, não fui eu, não fui eu”.

As lágrimas ainda correm por seu rosto.

Em outro momento, ele diz que está com a consciência limpa e que a verdade um dia vai ser descoberta.

Luzimar leva a mãos ao rosto a fim de enxugar as lágrimas

Luzimar leva a mãos ao rosto a fim de enxugar as lágrimas

Márcio Neves/R7

O exame de balística 

Luzimar questiona a investigação. “Não tem digital?”, diz. “Cadê minha digital no carro do Gerson Brenner? E cadê essa arma, que ninguém viu?”, questiona. “O 38 era meu. Eu morava em uma chácara e tinha essa arma para me defender, não para tirar a vida de ninguém.”

Em conversa pelo telefone, o delegado Tourinho conta que, na época do crime, a perícia não conseguiu realizar o exame de balística. Segundo o delegado, o projétil que acertou a cabeça do ator ficou esmagada, devido ao fato de o crânio de Brenner ser muito forte.

Questionado, o delegado diz que o revólver encontrado com Luzimar tinha um calibre similar ao da bala que atingiu a cabeça do ator.

No acidente, Brenner perdeu massa encefálica. Ele foi levado para a Santa Casa de Jacareí, interior de São Paulo. Lá, foi recebido pelos neurocirurgiões em coma profundo.

Brenner com um dos cuidadores

Brenner com um dos cuidadores

Fotos e fonte: R7

 

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